quinta-feira, 17 de maio de 2012

RETIRE O SEU DINHEIRO!

  Não raro, dirigindo-nos a uma ATM (máquina do sistema Multibanco), depois dos procedimentos necessários para para efectuar um levantamento, no momento em que é disponibilizada a quantia pretendida recebemos da geringonça uma mensagem de voz: «Retire o seu dinheiro!». Algumas fazem-no com um volume sonoro digno de carrossel em qualquer feira.
    Ora, nos tempos que correm, parece-me um tanto perigosa a emissão de tal mensagem. Como é do conhecimento geral, o desemprego é galopante, absorvendo novos trabalhadores a cada minuto que passa.

    Longe de contribuir para a paz social, a situação que atravessamos, geradora de carências das mais elementares e básicas necessidades, é propícia ao aumento de comportamentos violentos por cada vez maior número de pessoas em desespero, que movidas por um insuportável estado de necessidade, se dispões a tudo, para sobreviver, enveredando por caminhos que nunca teriam admitido vir alguma vez a trilhar.
    «Retire o seu dinheiro!» é uma das frases que chegada aos ouvidos de uma dessas pessoas, pode desencadear um turbilhão de sentimentos inesperados, e acção automaticamente desencadeada.
    Dinheiro é aquilo que já não há lá em casa, mesmo que a casa ainda exista!
    Lá em casa há fome que, por melhor que seja a acção de particulares e instituições, no sentido de disponibilizar meios de combate a esse flagelo, mais não consegue que atenuá-lo; há doença que se agrava, por não haver dinheiro para adquirir medicamentos, cada vez menos comparticipados, ou sem comparticipação porque o Estado, ao invés de recuperar, o que passou, indevida e ilegitimamente, para a esfera pessoal de certos senhores, nem sequer os condena, e tenta sugar até ao último cêntimo o rendimento de trabalho do cidadão honesto, enquanto consiga exercer alguma actividade remunerada; há carências de toda a ordem; há a iminente passagem da propriedade para o banco que em juros, segundo o contrato que celebrou com então estimado cliente, previa acrescentar ao capital emprestado várias vezes o valor deste, além dumas alcavalas que pretende ainda esmifrar, como se o valor do imóvel, avaliado pelos seus próprios serviços, não fosse suficiente para cobrir o saldo da conta-corrente.
    «Retire o seu dinheiro!» pode gerar uma cena de violência evitável se o Multibanco prescindir da altissonante tecnologia de voz e passar a aparecer impressa no monitor a frase: «Por favor, retire o dinheiro. Muito obrigado pela preferência!». Discreta e educadamente, que é atitude de que gosto.

    Setúbal, 17 de Maio de 2012

    Paulo Eusébio

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