segunda-feira, 8 de outubro de 2012

BURROS DE CARGA E DOUTORES

   Muito se tem falado no peso do ensino no Orçamento do Estado e no bolso das famílias. Com razão, quase sempre no que respeita às famílias e com doses cada vez maiores de demagogia, pelos que, tendo a obrigação de dar cumprimento ao estabelecido na Constituição, sobre essa matéria, lançando mão dos mais variados argumentos, distorcem o que o Legislador Constituinte tinha em mente, tudo fazendo não só para fugir ao seu cumprimento, como para o contrariar.
     Alguém já pensou, por acaso, nas pessoas que mais directamente sentem o peso da educação, peso físico mesmo, dos livros que carregam para a escola diariamente? Só para ter uma ideia, pesei os livros que o meu neto, com 13 anos, aluno do 8.º ano, leva para a Escola só para as aulas de Português nos dias em tem essa disciplina. Não contei com o dossier comum às diversas disciplinas, mas pude verificar que para os 9,5 kg totais da mochila com o material escolar nela transportado hoje, os livros da disciplina de Português contribuíram com 3,1 kg.

      
    Transportando diariamente todo esse peso, frequentemente às costas, quando crianças, não é de estranhar a ocorrência de doenças por deformação do esqueleto, na idade adulta, desde muito cedo.
   Fazem das nossas crianças burros de carga, e, como um burro carregado de livros, não é necessariamente um doutor, há quem engendre outras formas de o ser, designadamente pela obtenção de créditos e equivalências, com dois ou três exames pelo meio, para disfarçar.
     E são doutores destes que chegam aos centros de decisão suprema de um país e uma vez instalados,
ao invés de procurarem soluções para aliviarem as crianças do peso excessivo que transportam, soluções que decerto requerem imaginação que, quando a têm, ocupam em descobrir meios de sacar tudo o que de valor os cidadãos possam ter, muitas vezes em proveito próprio ou dos seus amigos, são doutores destes, escrevia, que olham para as ajoujadas crianças e pensam, mas não têm coragem de dizer: Estão carregados porque são burros! Façam como eu fiz!...

Nota: Anda para aí um boato, segundo o qual está em vigor um acordo ortográfico que estabelece normas novas de escrita da Língua Portuguesa, feitos por ignorantes e posto em prática por incompetentes. Recuso entrar nessa brincadeira, porque entendo que a língua Portuguesa, não pode ser sujeita a tais agressões. 

Setúbal, 8 de Outubro de 2012

Paulo Eusébio