quarta-feira, 9 de maio de 2012

EM NOME DO CLIENTE

    Quem frequente uma das grandes superfícies de distribuição existente na nossa Cidade, já reparou, decerto, há muito tempo numa inovação introduzida para "facilitar" a vida ao "estimado cliente", possibilitando-lhe uma redução do tempo necessário para efectuar as suas compras. Refiro, como possivelmente já terão pensado, as caixas operadas pelo próprio cliente.
    É sabido que, cada vez mais, o grande comércio tem, como principal centro de preocupação as pessoas. A primeira pessoa é o Cliente, começando por estudar a forma mais eficaz de lhe sacar o máximo dos cada vez mais reduzidos rendimentos; a segunda é o Fornecedor, a quem procuram desvalorizar os produtos, pagado-lhe cada vez menos, e fazendo-o suportar (ou, pelo menos, tentando fazê-lo)  todas as eventuais perdas, mesmo as decorrentes de promoções por vezes irresponsáveis e de utilidade mais que duvidosa para o cliente - alvo sempre declarado beneficiário das ditas promoções; finalmente, terceira pessoa, o Trabalhador ao seu serviço, tratado como um empecilho que só lhes provoca custos, do qual, não sendo possível prescindir totalmente, é necessário livrarem-se do maior número possível de efectivos, e ao qual procuram retribuir com as menores remunerações que lhes permitam vegetar e manter-se ao serviço, enquanto aguentarem - aí está o novo proletariado, phoenix ressurgida das próprias cinzas.
    Voltemos às tais caixas operadas pelo cliente. A ideia que querem passar, de menor perda de tempo  para o cliente, cai por terra com dois argumentos simples: o Cliente não estando vocacionado, na generalidade, para o desempenho de tal tarefa, perde imenso tempo com enganos, repesagens, rectificações, pedidos de ajuda, etc.; mas, dir-me-ão, depois de uma certa prática adquirida, o cliente conseguirá despachar-se com uma rapidez aceitável. Pois, consegue!, concordo eu, mas aí entra o segundo argumento: depois de banalizada a auto-operação em caixa, a grande superfície vê chegada a oportunidade para dar cumprimento a um objectivo que referi  acima - redução do número de trabalhadores: Como os operadores de caixa deixam de ser necessários, rua com  eles!
    Então as bichas crescem, não nas caixas tradicionais, que foram à vida, mas nas auto-operadas, não faltando quem descarregue o seu descontentamento sobre os nabos que nunca mais aprendem a andar com aquilo!
     Os responsáveis das grandes superfícies virão dizer no "telejornal" das oito que não cometeram nenhuma ilegalidade, que agiram no respeito escrupuloso da lei, blá, blá ,blá... e que não fizeram nada que os concessionários das auto-estradas não tenham feito há muito!
     E, nas entrevistas, tendo com pano de fundo a fachada do supermercado, o jornalista não se lembrará, decerto, de perguntar: «... e quando, por hipótese, nada mais que isso, mas se acontecer serem eliminados todos os postos de trabalho existentes no mercado a que é que vocês pensam vir a vender?»
    Está explicado porque eu recuso as caixas auto-operadas.

Setúbal, 9 de Maio de 2012

Paulo Eusébio

2 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog. Também tem um: http://sociologicar.blogspot.com.
    Os blogues estão de alguma forma a ficar obsoletos quando comparados com a s ferramentas proporcionadas por algumas redes sociais como o Facebook. Contudo, não deixam de ser uma ferramenta interessante, em particular para artigos de maior dimensão.

    Cumprimentos...

    C.Santana

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  2. Uma das vantagens do blog, para mim a maior, é ter num arquivo das publicações, que não fique perdido, em pouco tempo.
    Talvez se estejam a tornar obsoletos, mas os blogs proporcionam uma calma na escrita, e planeamento dos assuntos a tratar que não encontramos nas redes sociais mais recentes, onde impera a lufa-lufa, que não permite mais que a abordagem superficial e apressada dos temas.
    Na minha idade, as coisas feitas com mais calma saem melhor.
    Muito obrigado pelo seu comentário.
    Um grande abraço.
    Paulo Eusebio

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