segunda-feira, 7 de maio de 2012

PARA LÁ DA PAISAGEM

   Setúbal é uma cidade integrada numa paisagem de grande beleza, proporcionada pela baía que abraça o Sado no seu casamento com o Atlântico, de um azul intenso e único. Em frente, no outro lado do estuário, a Tróia cosmopolita que tomou o lugar da Tróia dos setubalenses, onde íamos passar férias, ou simplesmente fazer praia, no verão.
    Infelizmente, para lá da paisagem esconde-se a outra realidade com que topamos quando chegamos à baixa: lojas fechadas, prédios em ruína iminente, pavimentos degradados e crescente insegurança de pessoas e bens.
    A crise permanente em que temos vivido ou as sucessivas crises, se preferirem estão na origem da situação descrita, numa primeira apreciação. Mas a realidade é bem mais complexa.
    A abertura de grandes superfícies comerciais tem atraído um consumidor, cada vez mais homogéneo e apressado, que compra sem tempo para escolha, aproveitando as campanhas bem urdidas pelas empresas distribuidoras que se estão nas tintas para as necessidades reais das pessoas, levando-as a pela criação de novos hábitos de consumo, a comparem não o que precisam, mas o que o supermercado quer que elas pensem que precisam. Isto acontece, não só  na generalidade do país, mas na generalidade do mundo  que se diz desenvolvido.
    Perante tal situação, os centros históricos, têm deixado, a pouco e pouco, de terem comércio, um comércio personalizado, onde as pessoas eram atendidas por quem sabia do ofício, capaz de aconselhar, esclarecer e ajudar a escolher. E faziam-no, estas pessoas, com simpatia, cortesia e  um sorriso que dispunha bem o Cliente.
     Com o fechar destes estabelecimentos, diminuiu o movimento nas ruas, foram muitas pessoas para o desemprego e não se fixaram pessoas em idade laboral. A população foi envelhecendo e morrendo. As casas que ficaram devolutas não tiveram procura que as ocupasse. Os senhorios, com IMI para pagar, tendo deixado de receber as rendas antigas, naturalmente baixas, algumas vezes a sua única fonte de rendimento, ficaram sem possibilidade de fazer quaisquer obras de reparação ou restauro, precipitando os imóveis numa marcha acelerada, rumo à ruína total.
    Esta é uma pálida ideia de que está escondido para além da paisagem que a fotografia documenta.

    Setúbal, 7 de Maio de 2012

    Paulo Eusébio

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