«Quem está
mal, muda-se!», reza um aforismo, que ouvimos constantemente.
Muitos milhares de portugueses, nos
últimos anos têm seguido essa sentença, mudando-se, de armas e bagagens, para
outros países em busca de condições de sobrevivência que vêem negadas no seu.
Muitos sentiram-se aconselhados a fazê-lo, quando o Governo, em quem votaram
com a promessa de solucionar as dificuldades económicas, criadas pela banca, a
nível mundial, em lugar de tomar as medidas adequadas contra os especuladores e
vigaristas, rasgou todas as promessas e agravou exponencialmente a situação
difícil em que nos encontrávamos. E fê-lo, cinicamente, acusando-nos de
estarmos a viver acima das nossas possibilidades. Não houve bicho-careta entre os
iluminados que peroram sobre matéria económica, sem entenderem minimamente de
que realidade se ocupam, nas nossas rádios e televisões e escrevinham nos jornais,
alguns pagos muito acima da qualidade do seu trabalho, que não secundasse a
falsidade posta a circular. Carreiras, Ferreiras e quejandos, quais psitacídeos,
palravam: «Estamos a viver acima das nossas possibilidades…».
Entretanto, o Governo, sem a menor intenção
de resolver qualquer dos problemas com que o País de debatia, enviava o aviso à
navegação: quem quiser fugir do desemprego e da miséria decorrente, tem como
saída a emigração. Traduzida, a mensagem governativa era esta: «Se não querem ficar mal, como nunca
imaginaram, pirem-se, enquanto é tempo!».
Se o conselho fosse seguido até às últimas
consequências, em pouco tempo, a população activa transferir-se-ia para outros
mercados (finalmente uso uma palavra adorada pelos que detêm o Poder!),
enquanto por cá ficariam os velhos, alguns deficientes e os desempregados, que seriam
espoliados pelo Fisco até à última moeda.
Com o “terreno” completamente limpo
estavam criadas as condições e as portas abertas para a entrada do Capital de
qualquer proveniência, sem preocupações de limpeza, pois o capital é geralmente
sujo, embora haja umas partes dele mais sujas do que as outras.
Enquanto isso a fome e a doença se
encarregariam da parte não produtiva da população que tinha ficado por cá.
Cada vez se difunde mais a ideia de
que os políticos são todos iguais, pelo que não vale de nada votarmos. No
seguimento, vem o apelo à abstenção, apoiado em mentiras propaladas, como se
fossem preceitos legais, que já têm sido alvo de desmentidos e esclarecimento
da Comissão Nacional de Eleições, e que eu me dispenso de escrever, não vá
alguém ler à pressa e depois dizer que encontrou isso escrito neste blogue, corroborando
a atoarda.
Não é com abstenção que se resolve o
problema.
A nossa arma é o voto. Tem sido mal usada
ou tem ficado no armeiro? Usemo-la, então de forma correcta.
A ninguém, em seu juízo perfeito,
passará pela cabeça fazer uso de qualquer arma, sem a conhecer bem, saber o que
poderá conseguir com ela e ter a consciência das gravosas consequências do seu
uso incorrecto ou inadequado.
O
voto é uma arma poderosíssima, quando bem usada.
Com essa arma, dispondo de munições (votos
individuais) em quantidade adequada e bem direccionadas, podemos mudar o rumo
dos acontecimentos. Com a abstenção reduzida a valores residuais, mostraremos
que estamos atentos e prontos a intervir e tomar nas nossas mãos a
responsabilidade dos nossos destinos. O voto expresso é o único que conta.
Brancos e nulos, na prática, não são votos, são lixo!
Se continuarmos todos o que temos
feito (alguns informando-se e votando de acordo com o que, em consciência, lhes
pareça melhor para o País; outros, votando no partido ou coligação, como se
fosse o seu clube e dessa votação dependesse uma posição no campeonato, e a
maioria anulando, branqueando ou não se dando ao trabalho de lá ir) os
resultados continuarão semelhantes, aos que nos trouxeram à presente situação.
Conscientes da arma que temos, e
sabendo como usá-la só temos que escolher os alvos, apontar e disparar.
O Acto Eleitoral que se aproxima,
geralmente é ainda mais desmobilizador do que os outros: Trata-se de eleger o
Parlamento Europeu. Muitos dizem que não lhes interessa, porque é gente que,
eleita, vai lá para a Europa! Quem assim pensa, ou anda muito distraído ou não
faz a menor ideia do Mundo em que vive. Quem legisla sobre as linhas-mestras da
nossa jurisdição? A Assembleia da República? Basta estarmos atentos às transposições
para os ordenamentos jurídicos dos Estados-Membros da Legislação Europeia,
para termos consciência de que prevalece sempre a Legislação de Bruxelas, às
das diversas capitais europeias. Os parlamentos nacionais, transpõem as normas
europeias para os respectivos estados, enquanto a margem de manobra legislativa
de que dispõem fica reduzida a pouco mais que meras iniciativas regulamentares.
Com base nesta reflexão que vos
deixo, como votarei?
Não vou obviamente, dizer qual a
força política a quem confiarei o meu voto; isso é decisão que só a mim compete
e de exclusividade da qual não abro mão.
Vou recordar o comportamento de
Governos e Partidos; como chegaram, ou se viram afastados do Poder; que
mentiras usaram, que promessas, depois invertidas e negadas, que processos
interromperam, o que estando em construção destruíram; se raramente estiveram
no Poder, o que defenderam, e foi liminarmente afastado por maiorias declaradas
ou de ocasião; quais os complôs que sustentaram uns e eliminaram outros.
Respondidas as questões essenciais, enunciadas
acima, veremos que conscientemente é possível concentrar votos no sentido de substituir
o aforismo com que abri este texto por outro: Quem consegue mudar o que lhe faz mal, não se muda!
Setúbal,
15 de Maio de 2014
Paulo
Eusébio