Decorrem
hoje, em Elvas, as comemorações do Dia de Portugal.
Muitos
se lembrarão do “Dia de São Terreiro do Paço”, em que a data se transformara,
durante a última década do “Estado Novo”: num aparato de patriotismo exacerbado,
o regime, em loas a quem estava «orgulhosamente só», condecorava as figuras,
que lhe mereciam destaque, por diversos feitos, a favor do salazarismo,
confundindo este com os reais interesses do Povo, que não era para aí tido, nem
chamado.
Entre
aos agraciados contavam-se sempre, alguns a título póstumo, centenas de
militares, que se tinham destacado em missões heróicas na guerra que o
Presidente de Concelho tinha podido evitar décadas atrás, mas que preferira
possibilitar. Não vou aqui fazer a análise do que, nessa área, foi proposto e sucessivamente
recusado pelo ditador, enquanto punha os carimbos TRAIDOR e COMUNISTA
na testa dos proponentes.
E
era, e ainda é, sabido a quem exibia esses carimbos.
Hoje,
há pequenas diferenças: as celebrações descentralizaram-se, sendo em cada ano
efectuadas numa cidade diferente, as forças armadas têm apenas o papel de prestar
vassalagem em parada militar, e o Chefe, acompanhado da esposa e dos ajudantes,
deixou de vestir de branco, como qualquer cozinheiro, mas apresenta-se no seu
fatinho domingueiro, de campónio algarvio, acompanhado da sua Maria, que devido
à sua elegância, “qualquer trapinho lhe fica bem”. No mais, poucas diferenças
haverá, pelo, que abandonei o déja vue,
e vim escrever este desabafo.
Num
ponto-morto da cerimónia de Elvas, antecedendo os discursos habituais, a RTP1
transmitiu um trabalho em que entrevistava pessoas que tinham dado novos rumos
às suas vidas, algumas, só profissionalmente, outras, também emigrando. De
todas a entrevistas, uma frase, entrou-me por um ouvido e… não saiu: “As pessoas, fora de Portugal, sentem-se
mais portuguesas!”.
Aparentemente,
um cliché, esta frase, na sua
simplicidade resume o ponto de chegada comum a três aspectos.
Os
nossos queridos dispositores dos nossos destinos, têm-nos desenvolvido condições
para nos sentirmos cada vez mais “desnacionalizados” e escravizados por aqueles
a quem nos vão vendendo! O escravo acaba por ser um apátrida, situação em que
os que permanecemos aqui, cada vez mais, nos sentimos. Portanto, fora de
Portugal, não sentindo o jugo a que nos submeteram, sentindo-se livres a pessoas
sentem-se ainda Portuguesas.
Todos
aqueles que após negociatas, trafulhices, roubos e toda a espécie de aldrabices,
que esmifraram a riqueza nacional e se puseram ao fresco, para climas mais
propícios, como Cabo Verde, Angola, etc., sentindo-se longe de terem de prestar
contas à justiça, sentem-se portugueses, pois estão fortes e vigorosos, por
efeito da transfusão de que beneficiaram, a partir do sistema circulatório financeiro
de Portugal.
Há quem lhe tenha feito isto! |
Por
último, percebe-se agora, o que estava na cabeça de quem aconselhou os
portugueses a não serem piegas e a emigrarem: o futuro que lhes estava a
preparar não era digno de seres livres;
logo, se quisessem continuar a sê-lo, só tinham um caminho a seguir, pirarem-se, e, conseguida uma vida digna lá fora, sentir-se-iam mais portugueses, coisa
que pelo encaminhamento a que Portugal estava (e continua) a ser sujeito, seria cada vez
menos possível aqui.
O
povo Português corre o risco de, à semelhança do Judeu, durante quase dois
milénios, ficar privado de território próprio, assumindo nacionalidades
alheias, embora o seu sentimento e cultura próprios, que se esforçarão por
preservar, os façam sentir-se cada vez mais
Portugueses.
Setúbal, 10 de Junho de
2013.
Paulo Eusébio
Este texto foi escrito em Português. Se os
“acordistas” o quiserem compreender, ainda
estão a tempo de aprender a Língua Pátria. (Decreto n.º 35:228 de 8 de Dezembro
de 1945)
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