sábado, 7 de setembro de 2013

INCURSÃO PELOS MONTES HERMÍNIOS


Quem, em férias «cá dentro», desviando-se das praias saturadas, vá em busca do Portugal interior, arrisca-se a ter uma série de surpresas, se não tiver quem avise do que poderá encontrar.
A cabeça do Velho observa...

Durante uma semana, em Agosto último, com base no concelho de Gouveia, andei pelos Montes Hermínios. Como Viriato, em caso de emergência, não tinha meio mais eficaz que um valente berro, se necessitasse de socorro para mim, ou para alguém que comigo estivesse e necessitasse de ajuda que eu não lhe pudesse proporcionar. 

Berrar não é o meu forte, até pela minha rouquidão, e, afora isso, fosse a minha voz bem sonora e troante, no meio de uma estrada de reduzido movimento, em local afastado de qualquer habitação, o meu berro não seria ouvido por ninguém.
...os fumos, lá longe.


Perguntar-me-ão: “Porque não levaste o telemóvel contigo? Bastaria ligares o 112 em caso de emergência geral ou o 117, se avistasses qualquer nova coluna de fumo, para além das que ofuscavam o Sol, e te dificultavam a respiração, por obra daqueles que tudo incendeiam, ficando quase sempre impunes, mesmo que detidos e presentes a juízes que lhes aplicaram, como medida de coacção termo de identidade e residência, que que muitas vezes aproveitam para, a caminho dos locais de apresentação periódica, ou já no regresso, lançarem mais umas acendalhas?”.





A Muitos quilómetros de distância, o fumo lançava a sua cortina.
Nos lançamentos dos concursos para atribuição dos alvarás do serviço telefónico móvel – pergunto eu – alguém se lembrou de estabelecer a obrigação de as operadoras a licenciar cobrirem totalmente todo o Território Nacional, dentro de um prazo razoável determinado, findo o qual, não se verificando o cumprimento dessa obrigação, o alvará respectivo fosse cassado?
A pergunta, aparentemente pertinente, não tem em conta que, deslocando-nos em certas zonas do País, por estradas dos Séculos XX ou XXI, mergulhamos no reino das comunicações do Século XIX. Eu levava telemóvel, “dual-sim” com cartões de operadoras diferentes e todos os que comigo viajavam também eram portadores dos seus celulares. Há, no entanto, um pormenor a ter em consideração: não havia rede de nenhum dos operadores! Foi isso que me fez mergulhar nos Montes Hermínios, quando demandei a Serra da Estrela. É isso que acontece em muitas parcelas do «Portugal Profundo», de Norte a Sul!
Alguém impôs aos amigos do costume que cumprissem essa simples obrigação de tornar possível ao assinante - que paga para isso! -  falar, usando o seu telefone de bolso, para quem estivesse noutro qualquer ponto do Território, ou só lhes disseram que, além das chamadas e mensagens possíveis nas áreas que decidissem cobrir, estavam autorizados a usar toda a espécie de estratagemas para sacarem mais algum – resultados de futebol (só para 3 clubes, que os outros não são ninguém, pois não têm numero suficiente de tansos que tornem rentável esse serviço), o tarot da Maya, estreias de cinema, Euromilhões, etc. – ou lançarem-se em novos serviços integrados concorrendo em áreas cujos operadores se alargaram simultaneamente os seus negócios ao telefone móvel?
Nas serras, em muitas Reservas Naturais, o fogo lavrou, extinguindo grande parte da nossa floresta, com consequências dramáticas, além da perda de oito vidas humanas (oito até ao momento em que escrevo), na extinção de ecossistemas, na interrupção de cadeias alimentares, no agravamento de doenças, pela perda de qualidade do ar, e no empobrecimento geral do País já tão agredido por outras vias e diligentes agentes.
O Sol espreitava, envergonhado!
Quem são os criminosos a quem se deve esta destruição pelas chamas?:
Os que, Estado incluído, não limpam nem deixam que lhes limpem as florestas que lhes pertencem ou estão confiadas? 
Os que por adorarem o espectáculo, lançam fogos simultâneos em diversos pontos? 
Os que, por interesses imobiliários, mandam queimar áreas, onde, fintando a Lei, irão construir mais tarde? 
Os que, pagos por estes últimos, incendeiam as citadas áreas? 
Os que se aproveitam dos baixos preços da madeira ardida, abatida em consequência de fogos que mandaram incendiar, aumentando os seus lucros por essa via? 
Os que, por uma qualquer vingança ateiam fogos? 
Os que…?

E não seria também de incluir entre os criminosos os que operando apenas com os olhos na maximização do lucro, só disponibilizam o serviço de cobertura celular nacional apenas onde ele é rentável, pelo potencial número de assinantes por hectare, mergulhando o resto de Território numa mancha negra de silêncio?;
Os que por negligência contratual, permitem que isso aconteça?;
Por último, os que desculpando-se com mil e um argumentos vão reduzindo paulatinamente Serviços Públicos, material e humanamente, tornando o Estado em mero agente de extorsão?

Deixo estas perguntas a quem me ler, como base de meditação e busca de soluções para impor aos responsáveis políticos que tão cegos e surdos têm andado, excepto, para o que convém aos interesses próprios e aos dos seus dilectos amigos, que finalmente cumpram os mandatos para os quais os elegemos e para para cujo cumprimento lhes pagamos ( muito mais do quem têm demonstrado merecer).

Setúbal, 7 de Setembro de 2013
Paulo Eusébio


ESTE TEXTO FOI ESCRITO EM PORTUGUÊS, EM VIRTUDE DE O AUTOR NÃO PACTUAR COM A DESTRUIÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA QUE TEIMOSAMENTE TÊM PROSSEGUIDO, ESCUDADOS NUM "ACORDO" ILEGÍTIMO E INEXISTENTE.

1 comentário:

  1. Muito bem escrito, como já é hábito nas tuas narrativas! Muito pertinente também. A ilustração perfeita através de muito boas fotos , a que também já nos habituaste! Oxalá tenha o feed back necessário e ajudar a resolver esse problema, que é de facto um grande problema de isolamento

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